O Manifesto do Partido Comunista

Norma Braga | 02 Março 2010

A estrutura argumentativa de O Manifesto do Partido Comunista é relativamente simples, consistindo de forma geral do seguinte arrazoado:

(a) A sociedade é dividida em classes que estão em luta entre si: classe dominante (burguesia) e classe oprimida (proletariado);
(b) Para acabar com a opressão dos proletários, a solução é acabar com a classe dominante, portanto, com a burguesia;
(c) Em um primeiro momento, o proletariado se une ao Estado para compor uma “classe dominante” só para expropriar e acabar com a burguesia;
(d) Em um segundo momento, não há mais classe dominante – ou, melhor dizendo, o Estado passa a ser a única classe dominante, controladora dos bens e dos modos de produção;
(e) Isto se fará de forma autoritária e/ou violenta.

É simples percebê-lo. Leiam esse trecho:

O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas. Isto naturalmente só poderá realizar-se, em princípio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas (…)

Ou seja: a tal “justiça social”, do ponto de vista do comunismo, nada mais é que uma violenta reversão da relação de poder. No trecho acima, em um primeiro momento a conjunção proletariado + Estado passa a ser a nova classe dominante, mas apenas para fins estratégicos: para tirar da burguesia e dar ao Estado. Qual a nobreza disso, se (a) o processo prima pela violência, no melhor estilo “os fins justificam os meios” e (b) o Estado é o beneficiário do processo? Promove-se uma convulsão social (com perdas terríveis para a sociedade) apenas para fortalecer o Estado.

Mais adiante, veja como fica claro que, num segundo momento, o proletariado perde seu status de classe dominante, e o Estado passa a ser o senhor absoluto sobre tudo:

Uma vez desaparecidos os antagonismos de classes no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político. O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra. Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constitui forçosamente em classe; se converte-se, por uma revolução, em classe dominante e, como classe dominante, destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói juntamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes e as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.
 
O resultado: ex-burgueses empobrecidos e uma fé absurda em que “o aumento das forças produtivas” nas mãos do Estado produza por magia um enriquecimento igualitário da população sob um governo comunista. Em que países comunistas houve esse enriquecimento? Nenhum. Ao empobrecimento geral do povo só se seguiu o enriquecimento do Estado – além do aumento de seu despotismo. Confira abaixo as medidas comunistas para acabar com a classe burguesa e seja sincero: são justas? A grande maioria delas, não. E fique atento: a número 1 e a número 2 já estão em andamento no Brasil, com, respectivamente, o MST (que é exatamente isso: o proletariado expropriando as terras, que passarão ao Estado) e os mais de 30% de impostos sobre o salário em vigor.
 
1. Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado;
2. Imposto fortemente progressivo;
3. Abolição do direito de herança;
4. Confiscação da propriedade de todos os emigrados e sediciosos;
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo;
6. Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte;
7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral;
8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura;
9. Combinação do trabalho agrícola e industrial, medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo;
10. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material etc.

Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.

Eu diria: em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge um Estado superpoderoso que sufoca os indivíduos e se perpetua no poder através da ideologia (pois teme sempre que o povo possa se revoltar a ponto de derrubá-lo, assim como foi derrubada a burguesia), mantendo a todos em uma magnífica pobreza igualitária, financeira e mental. Enquanto os cubanos não têm o direito mais básico de ir e vir nem condições para comprar um simples rolo de papel higiênico – eles se limpam com jornal, todos eles – , Fidel Castro, o representante do Estado cubano, é apontado na revista Forbes como um dos mais ricos do planeta.

Isto é o comunismo, da própria boca dos comunistas: tirar dos mais ricos para dar ao Estado, reduzir a população inteira à pobreza, concentrar todo o poder e a riqueza no Estado. Tudo para o Estado, nada para o povo. Idolatria, em suma: o Estado é o deus do comunismo.
 
Não fui eu que inventei: está no Manifesto do Partido Comunista. Ainda é aplicado em muitos países no mundo todo. E é ideologia preferencial dos partidos políticos brasileiros, incluindo o que está no poder.

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